"O santuário do Futebol"

26 de jul. de 2018

Melhor dos piores ou pior dos melhores?


Ángel Rodrigo Romero Villamayor, ou simplesmente conhecido no Brasil como Romero. É um jogador de extrema garra e dedicação defensiva mas que peca em características básicas de um atacante como técnica, visão de jogo e controle de bola.

Talvez seja essa a visão da maioria das pessoas no Brasil sobre o futebol dele, e lembrei de um comentário no vídeo do Desimpedidos do Ubiratam Leal (também conhecido como livro) que indaga num mesa de debates do canal; seria Romero o melhor dos piores jogadores ou o pior dos melhores?

https://footystats.org/players/paraguay/angel-rodrigo-romero-villamayor
Para responder essa pergunta vamos primeiramente analisar os fatos da maneira menos subjetiva possível, através de números. Desde 2014 no Corinthians Romero teve seu ápice em números em 2016 aonde fez 53 partidas, 15 gols e deu 6 assistências, números relativamente bons para o futebol Brasileiro. Nesta temporada ele fez até agora 32 partidas fez 7 gols e deu 6 assistências totalizando um média de 0.35 gols a cada 90 minutos, médias similares a Marcus Rashford, Leroy Sané, Bernardo Silva, Wayne Rooney, Isco entre outros. Claro que estes dados podem variar já que foram colhidos de uma temporada que já terminou na Europa e ainda está na metade por aqui, mas não deixam de ser menos impressionantes.

Nestes quase 4 anos de Corinthians ganhou 4 títulos: 2 Campeonatos Brasileiros e 2 Campeonatos Paulistas, é o maior artilheiro do novo estádio, o estrangeiro com maior número de partidas pelo clube (196 jogos) e também o estrangeiro com maior número de títulos pelo Corinthians.

Fica evidente que apesar de todos os problemas de técnica que fazem questão de colocar sobre o jogador os números são indiscutíveis, pode não ser um craque mas é um jogador de fundamental importância e participação nas campanhas do Corinthians. Participação aqui é a palavra chave, infelizmente é difícil encontrar estatísticas acuradas sobre futebol aonde muitos sites divergem sobre as informações, mas o que realmente faz falta é uma estatística específica de esportes americanos que analisa exatamente a participação, o Win Share.


Saindo um pouco do âmbito do futebol; Win shares é um livro produzido por Bill James e nele é explicado o conceito de Sabermetria, onde é feita uma análise empírica de dados de desempenho do atleta em uma partida e o quanto isso reflete para o desempenho do time e o resultado do jogo, é amplamente usada no Baseball, mas também no Basquete. Só para se ter uma ideia do conceito aplicado, Lebron James tem um status de 14 Win Shares em 2018 de 82 partidas da temporada regular, ou seja de 82 partidas aonde foram 50 vitórias do Cavaliers o time teria 14 vitórias a menos se Lebron não estivesse no time.

Como este é um conceito não difundido no futebol nunca saberemos através de dados em quantas partidas a participação de Romero mesmo não marcando gols contribuiu para a vitória, mas existem inúmeros exemplos de como muitas vezes jogadores com pouca técnica viraram ídolos de seus times e conquistaram títulos.

Vamos começar com um exemplo mais recente Giroud, foi campeão mundial pela França não marcando um golzinho sequer na copa isso sendo o centroavante de referência, Washington ganhou um Campeonato Brasileiro com o Atlético Paranaense em 2001, Raúl é um dos maiores ídolos da história do Real e sempre foi um jogador de pouca técnica, e não param por ai os exemplos, Inzaghi também tem o mesmo status no Milan, Vieri na Internazionale, Jardel no Grêmio e esses foram apenas os que eu vi jogar e que me vieram na cabeça durante este post. Se títulos fossem tudo, então Giroud seria melhor que Zico por ter ganhado uma Copa do mundo.

Romero com grife
Romero então se encaixa na condição mais humana possível dentro do futebol, ele tem conhecimento de suas deficiências e sabe aonde compensar isso ganhando assim o carinho da torcida e a ira dos rivais com suas provocações tanto dentro quanto fora de campo. Definitivamente ele tem seu espaço e principalmente sua importância na história do Corinthians e isso ninguém pode tirar dele.

Nem o melhor dos piores nem o pior dos melhores Romero é apenas Romero.

24 de jul. de 2018

Criamos um monstro?

Que tecnicamente Neymar é o melhor jogador Brasileiro atualmente ninguém discute, mas será que Renê Simões estava certo ao dizer que estávamos criando um monstro? A célebre frase para refrescar a memória foi dita após a vitória do Santos sobre o Atlético Goianiense por 4-2 em 15/09/2010 aonde a estrela do Santos discutiu com seu treinador proferindo diversos palavrões ao mesmo, e ao ver esta atitude o então treinador do Atlético disse:

"Estou extremamente decepcionado. Eu poucas vezes vi alguém tão mal-educado como esse rapaz Neymar", disse. "Está na hora de alguém educar esse rapaz, estamos criando um monstro"

Cover do Felipão

Oito anos após essa fatídica entrevista, será que ele estava correto na sua afirmação? É notável o quão fraco psicologicamente nosso craque é, sejam por suas atitudes em campo quanto fora dela. O fato é que Neymar deixa a Copa de 2018 como a grande piada mundial.

Há de se dizer que o mesmo veio de uma lesão grave antes do mundial, estava sem ritmo e encontrou uma seleção jogando fora de seu padrão habitual, mas é notório o quanto o mesmo não consegue assumir o papel de protagonista quando exigido, em todos os times que passou em sua carreira o único que conseguiu algum destaque como protagonista foi exatamente quando dividia os holofotes com Ganso, em uma época aonde até se discutia qual dos dois era melhor.

No Barcelona jogou a sombra de um dos melhores jogadores da história do futebol, assim quando era necessário a pressão recaía sobre Messi e não se exigia tanto de Neymar. Nessa circunstância foi a melhor fase da carreira dele até agora, tanto em números quanto em futebol apresentado. A situação não se repete (pelo menos até então) depois de sua transferência para o PSG, sendo contratado como a maior estrela e referência do time não conseguiu brilhar o tanto que desejava e no mundial foi o fiasco que todos vimos.

O grande problema como citei acima é exatamente o psicológico dele, desde a categoria de base do Santos o jogador sempre foi mimado demais, tanto profissionalmente quanto pessoalmente. E sempre que precisou lidar com pressão ou com críticas ele se escora em pessoas que apenas falam o que ele quer ouvir e o blindam para o mundo. O maior exemplo de como ele não amadureceu foi toda a situação que se criou com Cavani, claramente foi um erro da parte dele ao não respeitar uma hierarquia preexistente se achando o dono do time. Esse tipo de atitude só denigre a imagem dele, cria tumulto no vestiário e não ajuda em nada seu objetivo de ser o melhor do mundo.


Outro tipo de blindagem que afetou sua carreira foi o protecionismo que a arbitragem brasileira propõe. Ao apitar qualquer tipo de contato que ele sofre ele se acostumou a acreditar que basta fazer um escarcéu ao mínimo toque que sofre para que a falta seja dada. Porém a realidade europeia é totalmente diferente, a cultura de lá odeia jogadores que tem esse tipo de atitude, inclusive na Espanha existe até um termo pra quem cava faltas "piscinero". E isso atrapalhou demais seu desenvolvimento, fica o exemplo claro da última copa aonde foi negado um pênalti pelo VAR por causa de sua atitude antidesportiva ao parecer que levou um tiro tendo sido tocado na área.

Claro que esse tipo de atitude já está arraigada na cultura brasileira, o famoso jeitinho ou também conhecido como "Lei de Gérson", então por que eu tentaria continuar na jogada se posso tentar ganhar um pênalti? O problema é que esse tipo de pensamento não cabe mais no futebol (e na vida real também, mas ai já é outro assunto) com dezenas de câmeras e recursos de replay e até o VAR agora, cada vez mais esse tipo de atitude tem sido execrada e jogadores que não desistem da jogada tem sido mais aplaudidos. Fica o exemplo de Messi por exemplo que nunca desiste da jogada por mais que apanhe, ou de Suaréz, ou de Cristiano Ronaldo, ou de Mbappé...

O fato é que enquanto o Brasileiro não tiver uma mudança severa em sua atitude e resolver assumir seus erros ele nunca conseguirá ser o que tanto almeja, o melhor do mundo. E pelo visto ele não está seguindo por esse caminho. usando seu Instagram e se fazendo de coitado para tentar amenizar toda a crítica justa que recebeu após a vergonha da Copa.


Renê Simões não só acertou ao dizer que estávamos criando um monstro como viu em sua atitude o que seria o maior problema da carreira dele. Talento e dom infelizmente não compensam as atitudes infantis, tanto é que nem no top 10 dos melhores do mundo ele ficou esse ano. O maior problema de Neymar talvez seja ele mesmo, a vantagem é que ele depende apenas dele para mudar tudo.

18 de jul. de 2018

Vis la république!

E a França se consagrou a mais nova bicampeã mundial entrando para o rol que também contém a Argentina e o Uruguai, contando com uma seleção com muitas novas caras após o fracasso na Eurocopa. Mas o que dá pra tirar de lição para a próxima Copa?

Esses negros maravilhosos

Primeiro vamos analisar o retrospecto. Chegamos com a expectativa de ter um time que capengou no começo das eliminatórias após um mundial vexatório (muito devido a atritos políticos como sempre) mas que teve em Adenor uma redenção, classificamos em primeiro como o melhor futebol da América do Sul e um dos melhores do mundo. 

Porém, nossa maior estrela voltava de lesão após 4 meses parado e a seleção foi convocado sem muitas surpresas. O que aconteceu então que aquele futebol que envolvia e encantava acabou sumindo por um futebol pragmático e sem ideias diante de retrancas? O maior "vilão" se é que é para existir um foi o próprio Tite. Ao não manter a consistência de escalações anteriores (bem verdade devido a lesões de algumas peças chave) o time perdeu em criatividade e eficiência. Sem Renato Augusto e Daniel Alves a seleção canarinho se viu muito dependendo de seu excelente lado esquerdo que foi facilmente anulado na maioria das partidas.


Outra mudança que foi fatal foi a do esquema tático do 4-2-3-1 das eliminatórias para um 4-1-4-1 que não conseguia criar jogadas, no time que encantou tinha escape de qualidade pelas duas laterais, proteção da zaga pelo Casemiro e qualidade tanto na chegada com velocidade no ataque de Paulinho quanto na qualidade do passe da criatividade de Renato Augusto, o time não ficava apenas dependente de Marcelo e Neymar e num geral era muito mais equilibrado dentro de campo tanto ofensivamente quanto defensivamente.


 Acabamos sendo eliminados para a ótima geração belga™ que aproveitou da nossa fragilidade no meio campo para jogar no contra ataque na velocidade de Hazard e De Bruyne. Mas dessa vez a eliminação não foi traumatizante como a da última Copa, e com certeza levamos muito mais coisas positivas do que negativas como resultado dessa campanha.

De longe o maior aspecto positivo foi a volta da identidade do torcedor com sua seleção. Desde a campanha de 2006 que o povo perdeu a sua identificação para com o time do Brasil, vide toda a politicagem e corrupção que correu a imagem da federação e desgastou a relação de amor do brasileiro com seu time. Este mérito ninguém pode tirar de Tite, que peca um pouco as vezes no aspecto tático mas no aspecto pessoal é de longe o melhor do Brasil, Adenor estudou para isso, entendeu que para assumir um desafio não é necessário apenas ter jogadores de qualidade, mas ter também jogadores que se sintam confortáveis para conversar com seu comandante e com isso se sintam mais suscetíveis para receberem ordem que não os agradassem pessoalmente. Gestão humana e meritocracia eram seus lemas e os jogadores abraçaram a ideia.

Queria tanto uma dessa...
Infelizmente essa gestão humana que deu resultados acabou sendo decisiva para o futuro do time na competição, ao não tirar William do time quando Douglas Costa estava claramente melhor e não abrir mão de Paulinho quando o meio campo não apresentava criatividade o time acabou se vendo muito dependente de sua maior estrela Neymar que por inúmeros motivos acabou não rendendo o esperado. Talvez com medo de se queimar com o elenco mudando de postura ou de tomar decisões mais rígidas quanto a escalação Tite acabou fraquejando e insistindo no erro, culminando assim na nossa eliminação.

Talvez o maior passo para a sequencia da seleção já foi dado pela CBF, a manutenção de seu técnico. Não há nenhum motivo para não se confiar no trabalho de seu Adenor nessa nova caminhada pelas eliminatórias e da copa de 2022, seu esquema de gerenciamento pessoal se provou eficiente e com certeza vai ajudar na renovação que será necessária para criar um elenco vencedor.
 
Temos excelentes nomes com potencial para serem grandes craques da próxima geração, além da evolução e da experiência que alguns jovens tiveram com esse mundial, como Gabriel Jesus e Marquinhos terão que provar nesses 4 anos que conseguirão manter a evolução em seu futebol para serem os grandes nomes de suas posições que ficarão carentes. E temos também como possíveis nomes para a renovação Paquetá, Vinicius Junior, Talisca, Arthur, Jemerson, Rodrygo...



O que fica de lição é aprender mais com a França, que renovou completamente seu time, apostou em novos talentos e contou com a experiência de algumas poucas peças (como Matuidi, Lloris e Griezmann) para levar o caneco pra casa. Temos uma ótima geração surgindo e ficará a cargo de seu Adenor promover as mudanças necessárias para que estas joias sejam lapidadas durante as eliminatórias e cheguem com bagagem para a próxima Copa.

E que sejamos pacientes pois um bom trabalho não se dá em quatro anos, veja o exemplo das últimas campeãs mundiais como a Alemanha e Espanha que apostaram num trabalho de 8 a 10 anos para colherem seus frutos.

Mas como a paciência não é uma virtude do brasileiro, somente o tempo nos dirá se tudo dará certo.